segunda-feira, 3 de março de 2008

Indígenas do Japão lutam para manter sua cultura

Os Ainu, indígenas do Japão com uma cultura ancestral que adora os ossos, lutam para sobreviver no norte do país contra a tendência de homogeneidade fixada nos últimos séculos.
A palavra Ainu significava "ser humano" no idioma desses indígenas, que povoaram um vasto território desde o norte da ilha de Honshu (principal ilha japonesa), às ilhas Kuriles e inclusive o sul da península Kamchatka, no extremo leste da Rússia.
No entanto, vários episódios históricos, como a guerra russo-japonesa de 1905, terminaram agrupando a maior parte dos Ainu no sul da ilha de Hokkaido.
Cerca de 20 mil descendentes desses indígenas que vivem em Hokkaido sofrem problemas para adaptar-se ao século 21.
Integrados em um país moderno onde é possível pagar a compra do supermercado com o telefone celular, já não podem continuar com o estilo de vida que definia sua identidade, baseada na caça e pesca.
Às margens do Lago Akan, com a paisagem coberta pela neve, Ryuji Hirasawa, vestido com uma bata tradicional e uma faixa na cabeça, explicou à agência Efe que seu povo pediu "um sistema de cotas ao governo japonês" para compensar o isolamento ao qual foi submetido.
Os Ainu acabaram se tornando dependentes do turismo e subsídios do governo. A casa Ainu de Akan, localizada próxima ao lago rodeado de fontes termais, se encontra em meio a aglomerações de barracas de produtos e totens que lembram a estética dos povos nativos da América do Norte.
Na casa Ainu liderada por Hirasawa, várias mulheres de baixa estatura e encorpadas interpretam para os turistas, a dança do tsuru (grou) com pequenos passos e movimentos bruscos com seus longos cabelos negros.
Apesar da ajuda do governo local, eles se queixam de não poderem continuar com rituais ancestrais como o roubo de um filhote de urso durante a hibernação da mãe para usá-lo em uma cerimônia religiosa.
A sociedade japonesa, que durante séculos baseou sua estabilidade na homogeneidade, maltratou durante séculos os Ainu e criou situações nas quais os próprios pais escondiam dos filhos a origem, para que não fossem alvo de maus-tratos nas escolas.
Hirasawa, presidente da Associação Ainu de Akan, no centro da ilha de Hokkaido, não fala seu próprio idioma, como a maioria dos integrantes do seu povo, e reivindica que "a língua Ainu seja incluída na educação obrigatória". Segundo pesquisadores, o idioma corre o risco de desaparecer.
Os sinais de decadência são evidentes, apesar de tentativas de reviver a cultura Ainu como uma campanha liderada por Shigeru Kayano, um dos últimos habitantes nativos, que chegou a ocupar um lugar no Senado japonês mas morreu no ano passado.
No seio político, um novo impulso tenta acabar com a inércia. Em setembro, a Associação Ainu de Hokkaio pediu ao governo japonês que reconheça aos indígenas os direitos garantidos pela ONU. A jovem Mina Sakai, líder do grupo Ainu Rebels, comanda a campanha.
O espíritoacreditei que poderia dizer alto e claro que sou uma Ainu". revolucionário despertou o interesse pelos Ainu entre os jovens japoneses com uma mistura de música tradicional misturada com rock e hip-hop.
A proposta encontra resistência de membros do próprio povo que acusam esses jovens de destruir suas tradições, mas Mina responde com uma frase que simboliza sua campanha: "nunca acreditei que poderia dizer alto e claro que sou uma Ainu".

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